A ilha do Rato vai à praça com uma base de licitação de um euro, já inflacionado na Internet, apesar dos risos que arranca quando se menciona o caso
A Se estava a pensar em comprar uma ilhota no rio Tejo por um euro, tire daí a ideia. É que a base de licitação para a compra de cerca de 45.600 metros quadrados de areia entre o complexo industrial do Barreiro e a base área do Montijo, que vai a leilão no sábado, foi ultrapassada por uma primeira oferta de 100 mil euros. Uma pechincha? Para o presidente da Junta de Freguesia do Lavradio, Adolfo Lopo, trata-se de "uma anedota".
A ilha do Rato vai à praça sábado à tarde através da Oportunity Leilões. O lote 556, descrito como imóvel localizado no rio Tejo, "devoluto e livre de ónus ou encargos", foi colocado no site da leiloeira com uma base de licitação de um euro. Mas ontem já tinha uma primeira ordem de compra de 100 mil euros, apresentada por um "manuel". A próxima oferta mínima terá de ser superior em cinco euros.
Segundo explicou Francisco Gallego, da leiloeira, a possibilidade de emitir ordens de aquisição pela Internet é recente e termina quatro horas antes do início do leilão, onde as ofertas de valor superior prevalecem. O leiloeiro adianta que apenas será vendida a parte privada, titulada através de registo predial, e que parte da ilha está no domínio público marítimo. "Trata-se de um imóvel com características de natureza particular que é melhor perceber como lidar", aconselha Francisco Gallego, numa alusão às condições de acesso e de utilização, acrescentando que "a Câmara do Barreiro tem direito de preferência na compra da ilha".
Uma fonte camarária adiantou que "não deu entrada no município" qualquer pedido para a ilha. Como o Plano Director Municipal não estabelece uso para a zona, qualquer projecto terá de ser analisado em função das condicionantes. Entre as quais a forte erosão marítima, provocada pelas correntes e pela circulação nas proximidades dos catamarãs que ligam o Barreiro a Lisboa.
O presidente da Junta de Freguesia do Lavradio, Adolfo Lopo, não poupa na ironia para descrever a ilha do Rato: "Um bocado de areia que anda a boiar no rio". O eleito da CDU acrescenta que, nos seus 56 anos, nunca deu conta de o espaço ter sido habitado no ano inteiro. Na meninice, foi lá "duas ou três vezes por brincadeira". Apesar de uma não muito distante promessa eleitoral socialista do "aproveitamento turístico da ilha do Rato", o autarca considera que "só mesmo por brincadeira" se pode pensar numa ocupação permanente do espaço com vista para as torres fumegantes da Quimiparque.
Adolfo Lopo reconhece que o local é rico em bivalves - das amêijoas às ostras, que estão a ressurgir com o aumento do tratamento de águas residuais das urbanizações ribeirinhas -, mas salienta que "toda aquela zona continua interdita a banhos" por causa da má qualidade da água. Um empresário do ramo imobiliário terá pedido 3,5 milhões de euros pela metade que, em 1868, foi doada por D. Luís a um cabo. O sonho de construir um resort paradisíaco, às portas de Lisboa, a partir das ruínas de uma antiga habitação, terá esmorecido. Mas não deixa de animar as conversas entre as populações da Moita e do Barreiro, certas de que o Tejo reclamará direitos sobre os projectos de ocupação da ilha.
Fonte: Público