Lugar privilegiado do "engraçadismo" ou extensão do espaço público tradicional, a blogosfera política é só diz-que-disse? Leia a REPORTAGEM da VISÃO que está nas bancas e navegue pelos BLOGUES.
Se dúvidas houvesse, o primeiro-ministro José Sócrates demonstrou, na semana passada, que, definitivamente, não é um blogger. Na Blogconf, o encontro onde pela primeira vez um político português se reuniu com os autores de alguns dos blogues nacionais, Sócrates dissertou sobre o conceito de "liberdade respeitosa", princípio que, para si, deveria orientar todos os debates políticos. O problema não está no substantivo ("liberdade"), que, da esquerda à direita, é bem capaz de ser a palavra mais consensual nesta espécie de hemiciclo on-line que é a blogosfera.
O problema está e se o leitor das páginas da VISÃO também é um blogue-leitor já adivinhou onde é que queremos chegar na escolha do adjectivo ("respeitosa"), cujas conotações morais davam um longo tratado de filosofia política.
Fiquemo-nos pela versão mais curta: há um livro de estilo "blogosférico" (não escrito, bem entendido) que recomenda poucas deferências, acatamentos ou submissões.
No princípio do encontro, que decorreu a 27 de Julho na cantina da LX Factory (o lugar onde, se quisermos ser optimistas, Lisboa é mais parecida com Londres), José Sócrates explicou ao que vinha, demonstrando saber adequar a mensagem ao meio: "Dizem que os blogues dizem tão mal de mim que eu decidi confirmar." Diz-se muita coisa sobre a blogosfera. Diz-se que escrevem uns para os outros, que só criticam o Governo e que não raras vezes -se excedem nos termos em que o fazem. Convém lembrar que o blogue pioneiro no comentário político em Portugal (A Coluna Infame, criado em Outubro de 2002 por João Pereira Coutinho, Pedro Lomba e Pedro Mexia) terminou por causa de um suposto excesso de linguagem. Pacheco Pereira, que em tempos já tinha rotulado o humor de um certo tipo de comentário político de "engraçadismo", diz também que "a blogosfera perdeu a consciência crítica" desde que alguns dos seus membros aceitaram reunir-se com o primeiro-ministro. A verdade é que não foi preciso esperar pela gripe A para sabermos que os tempos das campanhas "comicieiras" ficaram no século XX.
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